Para o professor Oscar Vilhena, a primeira coisa que chama a atenção durante a crise é a resiliência e capacidade de adaptação.No entanto, ele alerta que os esforços têm que ser redobrados em um país como o Brasil, uma vez que a desigualdade social tornará a crise de saúde pública muito mais aguda e dramática para os mais pobres
A Escola de Direito de São Paulo (FGV Direito SP) promoveu e disponibilizou, em 27 de março, o Webinar Educação: Reconstruindo caminhos, aprendendo com as adversidades. O debate contou com mediação de Marina Feferbaum, coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação (CEPI) e participação de Oscar Vilhena Vieira, diretor da FGV Direito SP, a psicanalista Heloísa Ditolvo e José Garcez Ghirardi, professor associado e responsável pelo Programa de Formação Docente no Mestrado/Doutorado da FGV Direito SP.
Segundo Marina Feferbaum, o webinar foi estruturado para responder a angústias da comunidade FGV Direito SP e público externo advindas da crise do Coronavírus, tais como o futuro, sociabilidade, medo da morte, educação e outros assuntos contemporâneos.
Para o professor Oscar Vilhena, a primeira coisa que chama a atenção durante a crise é a resiliência e capacidade de adaptação. “O mais importante foi que a sociedade vem se conformando aos direcionamentos propostos pelas ciências, que atualmente passavam por uma fase de descrédito”. Ainda segundo o professor, as autoridades que refutaram a ciência foram obrigadas a voltar atrás. Aquelas que usaram de seu poder institucional para reforçar a prudência e racionalidade foram fortalecidas.
No entanto, Vilhena alerta que os esforços têm que ser redobrados em um país como o Brasil, uma vez que a desigualdade social tornará a crise de saúde pública muito mais aguda e dramática para os mais pobres, pois nos momentos de crise os problemas de uma sociedade, escamoteados durante a normalidade, afloram de maneira mais contundente. “Manifestações como a de Emanuel Macron, na França, considerando os valores do Estado de bem estar social, são importantes, pois são valores incomensuráveis e não apenas custos. E colocá-los simplesmente sob as forças de mercado é uma irresponsabilidade”, disse.
A psicanalista Heloisa Ditolvo defende que a crise advinda do novo Coronavírus irá abrir possibilidades de diálogos e momentos de conversa.
“Nós estamos enfrentando medos, insegurança, ansiedade, pânico e ameaças de colapso externos e internos justamente porque estamos tendo que lidar com sentimentos muito primitivos, como, por exemplo, o sentimento de medo da morte. E essa situação nos coloca na ordem do traumático, que nos impossibilita o momento da elaboração”, explica.
Para a psicanalista, uma forma de enfrentar esses sentimentos surgidos com a quarentena é fazer um corte para que tudo convirja para dentro de casa.
“Por isso, as redes sociais entram agora como instrumento essencial, mas sua forma de uso vai mudar: ao invés de registrar os grandes feitos, grandes conquistas, grandes viagens, as redes sociais agora serão usadas para se importar com o outro, para criar outros tipos de ajuda, para pedir apoio do outro.”
Esse movimento, na opinião de Heloisa, terá como consequência o aumento da empatia. “O solovanco que o novo coronavírus está promovendo nos fortalecerá, apesar dos arranhões e marcas, e nos tornará humanos melhores”, acredita.
Em sua participação no webinar, o professor José Garcez Ghirardi partiu do pressuposto de que a a rotina foi alterada e, quando a rotina é rompida com a gravidade que está sendo agora, as pessoas não sabem como agir. “Esse rompimento da rotina é tudo, menos banal”, afirmou.
No campo da educação, o impacto do rompimento da rotina é a mudança de espaço. “De repente, nos vemos todos domésticos. Isso nos perturba um pouco porque nós construímos nossa personalidade entre a separação entre o papel profissional e o papel pessoal ou afetivo”, disse.
O segundo ponto de impacto é que o sair de casa faz as pessoas terem contatos não planejados. “Você tem que lidar com uma alteridade que você não controla complemente. E essa alteridade é importante para nós. A crise nos afasta do ambiente físico da universidade e nos impede duas coisas: não estamos mais no espaço público, ‘produtivo’, e não temos mais o contato inesperado com o outro. Essa mesma mudança ocorre também no tempo e isso causa uma grande angústia nas pessoas, porque passa a dar a elas a responsabilidade por essa fusão”, explica Garcez.
No entanto, a crise do Coronavírus, segundo o professor, representa uma oportunidade de aprendizado no meio acadêmico. As bases de representação da nossa atuação foram abaladas, diz o professor, mas estão nos forçando a enfrentar uma transformação tecnológica que já estava na sociedade. “Essa crise parece que impulsionou, ao ponto de irreversibilidade, a necessidade de enfrentar o fato de que tivemos uma transformação profunda nos modos de produção e que nossos profissionais vão ter que aprender a atuar neste espaço”, conclui Garcez.