História da filosofia é debatida em nova obra sobre Spinoza

O livro é permeado não só pelas sutilezas do conhecimento que disseca e divulga, mas também por uma sofisticação de linguagem essencial à consecução dos seus objetivos, contendo uma abordagem original ao pensamento de Spinoza.

História da filosofia é debatida em nova obra sobre Spinoza

Publicada pela primeira vez em 1968 e reeditada em 1988 pela Éditions de Minuit de Paris, a obra “Indivíduo e comunidade em Spinoza” de Matheron, chega em português ao público brasileiro pela FGV Editora, com tradução da engenheira Martha de Aratanha e dos professores Baptiste Grasset e Emanuel Rocha Fragoso. O livro é permeado não só pelas sutilezas do conhecimento que disseca e divulga, mas também por uma sofisticação de linguagem essencial à consecução dos seus objetivos, contendo uma abordagem original ao pensamento de Spinoza.

O autor alicerça-se num paradoxo, pois pretende atender aos mais exigentes parâmetros objetivistas e racionalistas da disciplina austera à qual pertence: a História da Filosofia. No entanto, a esses parâmetros Matheron acrescenta outros, cujo objetivismo e cujo racionalismo radicais fogem à boa parte dos preceitos que costumam imperar sobre as práticas da simples interpretação de textos.

Como Guéroult e Deleuze, Matheron pratica uma leitura genética da obra de Spinoza. Contra a tendência ensaística demasiado frequente entre os intérpretes (sobretudo na época), trata-se de partir do texto e de decifrar os recursos próprios do texto para lograr elucidar o sentido do texto. As intuições subjetivas, as hipóteses aventadas a esmo, os hábitos de leitura exclusivamente consolidados pela autoridade da tradição do comentário são rechaçados.

Para Matheron, o sistema filosófico elaborado por Spinoza e a verdade descoberta aos poucos pelo seu pensamento, à medida que vem intensificando a compreensão que ele tem de si mesmo, são duas coisas distintas. O método de Matheron almeja dar voz e prioridade sistemática a este Spinoza que se torna spinozista. A verdade spinozista, isto é, o pensamento de Spinoza geneticamente compreendido e perfeitamente desenvolvido do ponto de vista da unidade orgânica, ou seja, da densidade demonstrativa, tem um valor que, para Matheron, ultrapassa, e muito, o simples interesse filológico ou histórico: tal verdade é a própria chave de decifragem da realidade.

Em virtude deste princípio geral de análise, o comentador reorganiza a estrutura fatual do texto segundo a ordem genética de suas razões e diretrizes, e não hesita em emendar demonstrações que, a seu ver, permaneceram incompletas, ou em preencher o que, de acordo com a lógica do pensamento spinozista enquanto unidade orgânica total perfeita, parece ser uma falha pontual ou uma lacuna anormal nas demonstrações efetivamente produzidas no texto. Concretamente, ao invés de explicar o texto sob a batuta de sua ordem fatual e, portanto, ao invés de partir da metafísica de Spinoza, Matheron, em nome da verdade do pensamento acabado e completo do filósofo, parte da doutrina do conatus.

A obra está disponível exclusivamente em formato digital no site da FGV Editora e demais plataformas de vendas de ebook.

Fonte: portal.fgv.br

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