Impactos da pandemia de COVID-19 sobre o Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria de Transformação

Os mais afetados são os segmentos de Vestuário, Veículos Automotores e Couros e Calçados, que apresentaram as maiores quedas e os menores níveis no nível de atividade de abril. A diminuição da demanda e a necessidade de fechamento de fábricas fez com que esses segmentos operassem com menos de 25% da sua capacidade total

Como consequência da crise sanitária e econômica causada pela pandemia do novo coronavírus, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) alcançou o menor valor da série histórica iniciada em janeiro de 2001. Em abril, o NUCI atingiu 57,5%, isso significa que, em média, o setor industrial operou com pouco mais da metade da sua capacidade total, sendo o menor nível de produção dos últimos vinte anos. Contudo, a análise desagregada do indicador nos mostra que os segmentos foram impactados de formas diferentes, pelo menos nesse primeiro momento.

Os mais afetados são os segmentos de Vestuário, Veículos Automotores e Couros e Calçados, que apresentaram as maiores quedas e os menores níveis no nível de atividade de abril. A diminuição da demanda e a necessidade de fechamento de fábricas fez com que esses segmentos operassem com menos de 25% da sua capacidade total, como podemos ver no gráfico abaixo. Em relação ao nível de utilização médio, esses segmentos estão mais de 50 p.p. abaixo da média de cada setor no período de janeiro de 2001 a março de 2020.

Impactos da pandemia de COVID-19 sobre o Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria de Transformação

Quando comparamos com a crise anterior, entre o primeiro trimestre de 2014 e o último de 2016[1], os efeitos nocivos da pandemia ficam ainda mais evidentes tanto sobre esses segmentos quanto para a indústria de transformação. Em abril, o NUCI médio da indústria está 15,9 p.p. abaixo do mínimo observado durante a crise. Já os segmentos mencionados acima foram ainda mais afetados: Vestuário se encontra 63,7% p.p. abaixo do mínimo do período de crise, enquanto Couros e Calçados e Veículos Automotores se encontram -47,1% p.p. e -44,0% p.p., respectivamente. Nesse sentido, podemos inferir que, mesmo no pior momento da crise mais longa das últimas décadas, o nível médio da atividade industrial não foi tão comprometido quanto observamos agora.

Impactos da pandemia de COVID-19 sobre o Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria de Transformação

Por outro lado, os segmentos de Alimentos, Celulose e Papel e Farmacêutico apresentam pouca variação e um nível que destoa da média da indústria. Ambos beneficiados pelo aumento da demanda – interna no caso de Farmacêutica e externa para Alimentos e Celulose -, esses setores tendem a ser menos impactados pela crise, já que a produção de remédios, comida e produtos para higiene e embalagem é considerada essencial nesse momento.

Para os próximos meses, há sinalização de que a atividade possa se manter em níveis baixos em função da deterioração de dois indicadores importantes: nível de estoques e produção prevista. Enquanto o primeiro indica estoques excessivos, o segundo aponta para forte desaceleração da produção nos próximos três meses. Por esse motivo, dependendo da duração das medidas de isolamento social, da necessidade de fechamento de fábricas ou diminuição de turnos e, principalmente, do nível elevado de incerteza, poderemos ver o NUCI atingindo novo mínimo histórico.


[1] Segundo datação proposta pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace).

*As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), não refletindo necessariamente a posição institucional da FGV.

AUTOR(ES)

  • Impactos da pandemia de COVID-19 sobre o Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria de TransformaçãoRenata de Mello Franco
  • Pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE). Mestre em Economia pela UFRJ e bacharel em ciências econômicas pela Unicamp. Atuou como assistente de pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea, onde trabalhava com modelos de previsão para PIB e inflação. 

Fonte: https://portal.fgv.br/

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