O COVID-19 e seus impactos na indústria do petróleo

“Hoje há uma situação em que há um excesso de oferta de combustível e petróleo no mercado e uma escassez de demanda”, explica a pesquisadora da FGV Energia, Fernanda Delgado

O COVID-19 e seus impactos na indústria do petróleo

Uma das principais indústrias em todo o mundo é do petróleo e, assim como os demais setores da economia mundial, ela também foi afetada pela crise. No entanto, há um outro fator que tem impactado especificamente esse setor. O desacordo entre Rússia e Arábia Saudita fez os preços da commodity despencar, chegando a menor média vista nos últimos 18 anos. A pesquisadora da FGV Energia, Fernanda Delgado, falou sobre esse cenário na websérie FGV – Impactos do COVID-19.

Fernanda conta que há cerca de um mês houve uma reunião entre os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) – cartel liderado pela Arábia Saudita – e a Rússia em Viena (Áustria) para tentar influenciar o mercado petróleo na tentativa de influenciar o mercado, aumentando os preços do produto no mercado internacional a partir da identificação de queda na atividade econômica chinesa. Como não houve acordo, a Arábia Saudita resolveu inundar o mercado com petróleo, o que fez com que o preço despencasse.

“A Arábia Saudita tem um posicionamento, uma diplomacia bizantina de não guerra onde ela faz esse tipo de manobra, de jogar muito óleo no mercado para jogar o preço para baixo justamente para forçar seus adversários, ou os outros membros da OPEP, a voltar à mesa de negociação. Paralelamente a essa crise de superoferta, na qual especialistas já apontam um excedente de 6 milhões de barris a mais no mercado por dia, há uma crise de escassez de demanda causada pelo COVID-19, uma desaceleração da economia principalmente na China. Então há uma circulação menor de pessoas, o tráfego aéreo menor. Isso faz com que a demanda de combustível seja muito menor. Hoje você tem uma situação em que há um excesso de oferta de combustível e petróleo no mercado e uma escassez de demanda”, explica.

Segundo ela, já houve inclusive uma negociação entre a OPEP e o órgão regulador do Texas (EUA) que tentou influenciar os produtores americanos, principalmente de shale gas e tight oil, para que eles cortassem produção tentando influenciar esse preço para cima também. Ou seja, o livre mercado americano emulando uma situação de corte de produção, que é a forma da OPEP trabalhar.

“Não há nenhuma solução em vista ainda. Todos os países são afetados, porque de uma forma ou outra todos eles estão relacionados nessa geopolítica internacional. Todas as atenções se voltam para a próxima reunião da OPEP, no início de junho. Para o Brasil isso é muito importante porque já somos um grande exportador. O Brasil hoje produz cerca de 3 milhões de barris de petróleo por dia, e entre esses, 600 ou 700 mil são exportados todos os dias. Então o preço de petróleo afeta diretamente nossa balança comercial, a arrecadação de royalties e participação especial, afeta nossa indústria petrolífera e parapetrolífera”, destaca.

Ainda não há um entendimento entre árabes e russos, mas a expectativa da especialista é que eles cheguem a um acordo que permita o aumento dos preços e dar fôlego ao mercado.

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